domingo, 6 de junho de 2010

O namoro que faz bem à saúde

Especialistas afirmam que boa parceria protege o coração e incentiva a vida saudável
Cristina Coelho, 26 anos, encontrou há cinco anos uma fórmula que – ao mesmo tempo – a incentiva a fazer exercícios físicos (e deixar o colesterol alto para trás), abandonar o cigarro (vício que estimula os ataques cardíacos) e ainda comer de forma saudável (chave na prevenção contra o câncer de mama, hipertensão e acidente vascular cerebral).
O nome do “santo remédio” é Tiago Rimcha, 27 anos. Não. Ele não é personal trainer. Na verdade, Rimcha é administrador de empresas, primeiro amor de Cristina e acaba de ser “promovido” a marido.
“Desde o nosso namoro, o Tiago me incentiva a uma vida melhor. Claro que não é fácil acordar super cedo para fazer caminhadas ou resistir a uma pizza em plena quarta-feira”, confessa ela que é psicóloga. “Mas por ele acabo me esforçando mais e, para falar a verdade, me sinto bem quando faço exercício ou como menos besteira. Ele é meu ‘empurrãozinho’ para os hábitos saudáveis”, brinca.
O namoro que faz bem à saúde já foi estudado e, de fato, há ciência por trás de casos como o de Cristina e Tiago. O próprio Ministro da Saúde, José Gomes Temporão – instância máxima da área no País - advertiu recentemente que “o sexo faz bem à saúde”. A receita de Temporão foi dada como uma das estratégias para tentar frear o aumento de casos de pressão alta entre os brasileiros e, se a sugestão do ministro estiver incorporada em um relacionamento feliz e completo, pesquisas já evidenciaram que pode ser o segredo para a proteção contra derrames e arma na luta contra as drogas, esm especial o cigarro e a bebida.
Efeito protetor
Um estudo realizado pelo Departamento de Medicina Cardiovascular da Universidade israelense de Tel Aviv, comprovou a dose de proteção trazida por um relacionamento feliz.
Foram acompanhados por 45 anos 10 mil homens, todos funcionários públicos. Os divorciados e os solteiros apresentaram risco 64% maior de morrer de acidente vascular cerebral (AVC) quando comparados aos casados e felizes. Para chegar à conclusão, todos participantes foram submetidos a questionários que avaliavam o grau de felicidade de seus relacionamentos. Os resultados foram comparados entre os que sofreram derrames fatais e os que não passaram por nenhum evento cardiovascular. Os pesquisadores afirmam que foram ajustadas diferenças como colesterol e idade, que poderiam interferir nos resultados.
A cardiologista Walkíria Samuel Ávila, coordenadora do projeto Mulher da Sociedade Paulista de Cardiologia (Socesp), afirma que as explicações sobre o efeito protetor provocado por um coração apaixonado são as mesmas para falar dos malefícios de um coração partido.
“Já existem evidências bem sólidas sobre aumento de infarto, AVC e paradas cardíacas em pessoas divorciadas ou que terminaram relacionamentos”, afirma. “São episódios que têm íntima relação com estresse e depressão, inimigos do coração por interferirem diretamente no funcionamento cardíaco. Por outro lado, sabemos que pessoas apaixonadas e felizes com seus parceiros são menos depressivas e estressadas, portanto, mais protegidas”, afirma ela ao sugerir que os hormônios do bem-estar, como a endorfina, produzidos durante os exercícios físicos também devem ser liberados em maior número em pessoas apaixonadas, já que o mecanismo é parecido.
Calmante natural
Não é só o sistema cardiovascular que é beneficiado por uma boa parceria. Um estudo conduzido pelo setor de psicologia da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, os pesquisadores recrutaram 16 mulheres, todas em relacionamentos estáveis e felizes (como confirmou questionário submetido para a seleção).
O neurocientista James A. Coan, por meio de ressonância magnética, avaliou o comportamento do cérebro de todas as participantes. Um leve choque elétrico simulou um estresse em três situações diferentes. Na primeira vez, elas enfrentaram a situação sozinhas. Na segunda, seguraram a mão de um estranho e, na terceira, deram a mão ao marido ou companheiro durante a simulação da tensão.
Ao jornal New York Times, Coan disse que o fato de “segurar na mão do marido durante o choque elétrico resultou em um apaziguamento das regiões do cérebro associadas à dor, semelhante ao efeito provocado pelo uso de um medicamento”, uma evidência segundo ele, dos benefícios da parceria.
Além de comprovar que o relacionamento bem sucedido serve como trampolim para superar os eventos mais estressantes, os especialistas dizem ainda que o namoro e o casamento garantem índices de sucesso mais altos nas tentativas de parar de fumar ou de beber. “Chamamos de efeito dominó protetor”, define Stella Regina Martins, coordenadora do programa de atenção ao tabagista do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod).
“O que percebemos é que, principalmente as mulheres, enxergam no companheiro que não fuma um forte estímulo para parar de fumar. A parceria, a vida a dois, a possibilidade de ter uma vida mais saudável em companhia são grandes incentivadoras da procura por ajuda para deixar o vício”, afirma a especialista.
Nas clínicas de recuperação de álcool e drogas, os psiquiatras também identificam uma clara divisão entre pacientes que têm um companheiro e pessoas que são sozinhas. A motivação e a vontade de recuperação dos que têm alguém esperando do lado de fora é muito maior e interfere positivamente no tratamento, já alertaram os resposnáveis pela unidade pública de tratamento localizada em São Bernardo do Campo, Região do ABC de São Paulo.
Remédio ou veneno
Mas o simples fato de ter um namorado, companheiro ou marido não é garantia de felicidade e saúde protegida. Cristina, por exemplo, adora o incentivo do marido desde que ele não ganhe figurino de pressão para a corrida matinal ou saladinha no fim de noite. "Pressionada eu não funciono", diz. As relações estressantes, doentias e falidas, pelo contrário, só aumentam o convívio com os vilões do bem-estar. A paixão, o amor, a adrenalina e as endorfinas dão lugar à angústia, tristeza e depressão. Assim como qualquer remédio, a dose é determinante.
Fonte: Fernanda Aranda, iG São Paulo

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